Expresso - Duarte não é um “comentador mediático” nem uma “ministra querida”: candidato do Volt diz-se “empreendedor político” (e tem um número belga)
Em criança tratavam-no por “senhor ministro” mas só se fez político quando conheceu um eurodeputado “despojado dos formalismos dos políticos”. Para se dedicar ao Volt, fez pausa nas alterações climáticas, tema no qual é especialista. Seguimos a comitiva do Volt num parque em Odivelas, muito verde mas com pouca gente. Para ter gente na Europa, o partido precisa de mais do que os 11.858 votos que alcançou nas Legislativas.
Àquela hora, já fim da tarde, ainda não de noite, o Parque da Ribeirada, em Odivelas, pode bem ser um festival canino, de muitas raças, cores e feitios. Mas não é. É, sim, uma (quase) derradeira ação de campanha do Volt, a que o partido prefere melhor chamar “ação de sensibilização” — e sendo um partido “Verde” europeu, sensibiliza para "as problemáticas da transição climática e mobilidade sustentável”.
O telefone chama."Um número belga?" Liga Duarte Costa, presidente do partido, candidato às Europeias. Chegou meia hora antes da entourage — que todos juntos serão apenas sete, vestidos de roxo-volt, levando um par de bandeiras, panfletos, um planeta (“para as fotografias”), poucos para arruada (ou “parqueada”), os suficientes para um partido “de voluntários”.
A pergunta impunha-se: o número da Bélgica é um wishful thinking? Duarte ri e atira: “Acho que já estou preparado para começar um mandato”. O candidato (e cabeça-de-lista) do Volt para Bruxelas morou por lá dois anos. “No início tive de manter o número porque tinha aqueles contratos de fidelização. Depois resolvi manter até por uma razão prática: é que como o número é da Bélgica, ele vai utilizar a melhor rede disponível em Portugal. Tenho sempre rede”, explica.
Enquanto chegava e não chegava quem (do Volt) sensibilizasse e, desejavelmente, transeuntes de Odivelas para sensibilizar, importava conhecer um candidato às Europeias praticamente desconhecido, ele que amiúde até surge na televisão para comentar alterações climáticas. Duarte é, de formação (em Sussex, no Reino Unido) e profissão, especialista no tema. De profissão já não.
“Eu parei de trabalhar há dois anos, é um período sabático, pro bono. Porque parei? Para ser um 'empreendedor político’, como eu digo. Para empreender um novo projeto em Portugal, que é o Volt, porque estava muito convicto do potencial do Volt”, explica. Ninguém no partido é remunerado, nem sequer o presidente. “Não, não tem sido nada fácil. Foi necessário reequacionar muitas coisas na minha vida pessoal”, recorda, sem remorso.
Passa o primeiro popular, logo abordado (de flyer em riste) pela primeira pessoa do Volt chegada depois de Duarte. “Não, não. Obrigado, mas não. O meu voto já está decidido, já está há muito tempo”, responde numa passada apressada, pela indumentária uma passada de jogging.
Enquanto chegava e não chegava mais alguma da comitiva e, com sorte, mais gente, pergunta-se que passado político-partidário terá tido Duarte Costa antes do Volt? Nenhum. Nunca pertenceu a nenhum partido mas sempre gostou de política. “Em criança lembro-me de representar partidos inventados naqueles debates que havia na escola. E até os meus amigos me chamavam de 'o senhor ministro', porque era muito argumentativo e parecia um político a falar. Mas nunca me tinha identificado com nenhum partido, até sentia uma frustração em relação a isso”, garante.
A frustração passaria quando conhece Francisco Guerreiro, eurodeputado português, eleito com o PAN em 2019, depois desvinculado e independente logo em 2020. “Estava muito envolvido na ação climática como eu, também vegano como eu, jovem, muito despojado dos formalismos dos políticos. E comecei a ver que era possível ser-se político de forma diferente. O Volt? Poucos meses depois da fundação, comecei a vê-lo com atenção e resolvi aderir. Precisamente por ser um partido diferente, que traz uma cultura política de outros países que nós...
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