Os incêndios florestais que lavram no centro e norte de Portugal desde 15 de setembro causaram pelo menos cinco mortos e 182 feridos.
O Governo decretou um dia de luto nacional nesta sexta-feira para homenagear as vítimas dos incêndios.
Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), estima-se que a área ardida em espaços rurais seja de 122 380 hectares.
Desta estimativa, 60% são povoamentos florestais, 29% matos e 11% agricultura.
Portugal é um dos países europeus mais afetados pelos incêndios florestais dos últimos anos.
Os especialistas explicam que a recente catástrofe foi causada por uma combinação de ventos fortes, alterações climáticas que trouxeram temperaturas mais elevadas do que o habitual para o final do verão (superiores a 30ºC) e humidade muito baixa.
No entanto, alertam que a falta de biodiversidade nas florestas portuguesas e o crescente despovoamento destas áreas são os maiores fatores que contribuem para os incêndios florestais extremos.
"Nós estamos a caminhar para uma situação muito preocupante em termos de alterações climáticas, em que estas condições muito críticas que temos tido vão acontecer cada vez mais", afirma Maria Conceição Caldeira, investigadora e coordenadora do ForEco. "Precisamos efetivamente de ter uma paisagem muito adaptada".
Francisco Guerreiro, antigo eurodeputado português dos Verdes, é um dos políticos que mais tem apelado a uma maior biodiversidade nas florestas do país: "O que falta nas florestas Portuguesas é biodiversidade e gestão responsável de longo prazo. Precisamos de mais e melhor floresta."
Necessidade de uma paisagem florestal mais diversificada
A área florestal portuguesa é composta por 26% de eucalipto, 23% de pinheiro bravo e 23% de sobreiro e 11% de azinheira, segundo o ICNF.
Os investigadores não consideram que estas quatro espécies de árvores sejam suficientemente variadas para evitar a rápida propagação dos incêndios.
"Não há espécies bombeiras", diz Conceição Caldeira. "Não há uma espécie que permita que haja um fogo mais de intenso ou não".
No entanto, uma combinação de espécies ao longo da paisagem ajudará o país a evitar incêndios intensos. Isto porque algumas crescem mais do que outras e podem responder de forma diferente aos incêndios.
Com as consequências dos incêndios mortais de Pedrógão Grande em junho de 2017 ainda presentes, a gestão florestal voltou a ser alvo de escrutínio.
Muitos habitantes locais também têm apontado o dedo ao uso abusivo do eucalipto nas florestas portuguesas.
Os grupos climáticos Climáximo e Emergência Florestal estão a organizar manifestações em Portugal no dia 22 de setembro para protestar contra a aparente inação na prevenção dos incêndios florestais.
Porque apontam o dedo ao eucalipto?
Apesar de o eucalipto ser originário do sudeste da Austrália, esta espécie arbórea cobre 1,3 milhões de hectares de área florestal na Europa, de acordo com o Atlas Europeu das Espécies de Árvores Florestais.
Mais de 80% desta área situa-se na Península Ibérica, seguindo-se a Itália e a França.
À medida que os incêndios florestais se tornam mais comuns todos os verões, os investigadores dizem compreender a raiva contra os eucaliptos.
"A associação com os incêndios florestais é natural", afirma Domingos Xavier Viegas, diretor do Centro de Investigação de Incêndios Florestais (CEIF). "O eucalipto está a ser cada vez mais a espécie dominante da nossa floresta".
O eucalipto é a espécie de árvore mais alta registada na Europa, podendo atingir 70 metros de altura, por isso os incêndios em plantações de eucalipto tendem a ser muito perigosos.
"Libertam muita energia e partículas que podem causar projeções que estão na origem de novos incêndios e que são de muito difícil controlo", explica Xavier Viegas.
No entanto, os especialistas destacam que a árvore é uma fonte de rendimento para os habitantes do norte e centro de Portugal, uma vez que é muito utilizada para fins industriais, principalmente como pasta de papel, lenha e madeira.
"O eucalipto é uma espécie de crescimento rápido. Portanto, em 12 anos tem-se uma árvore adulta", explica Conceição Caldeira. "Não é o caso da maioria das árvores que temos, por isso tem um retorno económico importante para as pessoas e tem de ser visto como tal."
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