RTP: 'PAN. O pequeno partido que quer ser governo'
De resto, na crise política que está na génese destas eleições legislativas antecipadas ficam as impressões digitais de toda a esquerda, mas não as do PAN, o único grupo parlamentar que não chumbou a proposta de OE2022. Um facto destacado por António Costa durante o ameno debate de 8 de janeiro com Inês Sousa Real. No entanto, à piscadela-de-olho do primeiro-ministro, respondeu a dirigente do PAN lembrando que, se são sólidas as pontes para os socialistas, o mesmo acontece em direção aos sociais-democratas.
Por diversas vezes, Inês Sousa Real fez questão de sublinhar a noção, que vem sendo reiterada desde a fundação do PAN, de que o partido que dirige “não alinha na dicotomia esquerda-direita” tradicional; antes procura em ambos os lados da barricada política por quem apresentar maior grau de comprometimento com os valores e com as causas que compõem o ideário do PAN.
Longe vão já os primórdios de um PPA – Partido Pelos Animais que, em 2009, se apresentou como uma formação política cuja mensagem essencial radicava na defesa dos direitos dos animais. Na estreia em legislativas, em 2011, já como PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza, foi imediatamente reconhecido por uma importante fração do eleitorado, mas não em número suficiente para lhe abrir as portas da Assembleia da República.
Isso só aconteceria nas eleições parlamentares seguintes, já depois de um processo de amadurecimento político que passou por mais uma alteração do nome do partido. Em 2014, o Partido pelos Animais e pela Natureza dava lugar ao atual PAN – Pessoas – Animais – Natureza.
De entrada, o Pessoas – Animais – Natureza começou logo por apresentar propostas legislativas que denotavam a sua matriz: acesso a benefícios fiscais por associações ambientais e zoófilas; igualdade de direitos na adoção e apadrinhamento civil por casais do mesmo sexo; igualdade de direitos no acesso a técnicas de Procriação Medicamente Assistida. No capítulo ambiental, a discussão em torno do novo aeroporto de Lisboa foi sempre, e continua a ser, um ponto de discórdia com o governo socialista.
A atitude de negociação permanente que o PAN assumiu no Parlamento haveria de resultar na abstenção na votação do Orçamento do Estado para 2016, em que pela primeira vez ficou consagrada a inclusão no IRS das despesas com animais de companhia.
O PAN afirmava-se como força política no panorama nacional e, nas autárquicas de 2017, essa importância sedimentou-se com uma votação total três vezes superior, da qual resultou a eleição de 27 deputados municipais.
Já em 2018, depois de ter alinhado com a maioria parlamentar na reprovação da moção de censura ao Governo então apresentada pelo CDS, André Silva refutava a ideia de maior proximidade com a ala esquerda da Assembleia da República do que com a da direita. Sem olhar a cores, privilegiava o diálogo com quem, a cada momento, denotasse a “capacidade de entender que há cada vez mais pessoas que se reveem nas ideias e nos projetos que o PAN apresenta”. Uma tese que continua a nortear o posicionamento do partido.
Dores de crescimento
Em meados de junho de 2020, o eurodeputado Francisco Guerreiro anunciou a desvinculação do PAN, alegando divergências profundas com a linha política global que estava a ser seguida pelo partido. Um dos exemplos então apontados pelo dissidente, que decidiu manter o seu lugar no parlamento europeu, foi "a crescente e vincada colagem do PAN à esquerda".
Pelo peso político que transportavam, estas foram as roturas mais salientes: Mas houve outras, todas num período de poucos dias e sempre acompanhadas por duras críticas à direção do partido: na Madeira, o PAN viu-se sem representação depois da demissão em bloco de toda a Comissão Política Regional; Sandra Marques, membro da Comissão Política Nacional e deputada municipal em Cascais, também abandonou.
Os tempos subsequentes revelaram que não era bem assim. As críticas não deixaram de se fazer ouvir em alto e bom som e, logo no princípio do ano de 2021, veio a público uma carta subscrita por três fundadores do PAN, António Santos, Pedro Taborda e Fernando Leite, em que André Silva era acusado de desvirtuar o partido e de o transformar numa força política que “não é de direita nem de esquerda”, responsabilizando-o pela “anedota inofensiva em que o partido se está a tornar”.
Sai André Silva, entra Inês Sousa Real
O congresso do PAN em Tomar, em junho, marca a passagem de testemunho de André Silva para Inês Sousa Real, até então chefe do grupo parlamentar. Antes de sair (desceu da liderança do PAN e abdicou do lugar de deputado), o porta-voz cessante ainda liderou o partido na abstenção ao Orçamento do Estado para 2021, uma posição que se revelou crucial para passagem do documento na Assembleia da República, numa altura em que a geringonça já começava a desagregar-se.
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