SIC Notícias: 'As pernas curtas do PAN'
"Os senhorios alcançados tão depressa, como todas as coisas naturais que nascem e crescem repentinamente, não têm tempo de criar raízes e fibras com força suficiente para resistirem à primeira tempestade. É o que sucede às pessoas que em pouco tempo se tornam príncipes, se não possuem um talento tão grande que lhes permita prepararem-se para conservar o que a sorte lhes pôs nas mãos e se constroem os alicerces depois de subirem, coisa que os outros fazem antes". (Maquiavel)
Nas primeiras eleições a que concorreu, nas legislativas de 2011, o recém-criado PAN (legalizado em janeiro desse ano) obteve menos de 58 mil votos; teria de esperar até outubro de 2015, quando mais de 75 mil portugueses em todo o país (23 mil em Lisboa) votaram no que se propunha ser "o primeiro partido ecologista realmente independente", para conseguir um deputado (André Silva, que sucedera ao fundador, Paulo Borges, como porta-voz do PAN) na Assembleia da República.
Depois, foi o que se sabe: nas europeias de 2019 obteve 168 mil votos, mais do dobro dos que tinha tido quatro anos antes e elegeu Francisco Guerreiro para seu representante em Bruxelas; e nas legislativas desse mesmo ano multiplicou por quatro o número de parlamentares em São Bento.
O êxito era relativamente fácil de explicar, num mundo cada vez mais pragmático e por isso sem lugar para grandes romantismos, onde boa parte do eleitorado dá menos importância à ideologia do que a causas concretas e está disponível para votar em quem lhe pareça oferecer melhores condições para se bater por elas: o PAN percebera isso e soube agarrar precisamente duas das causas (o respeito pelos animais e a urgência do combate às alterações climáticas) que, merecendo até aqui pouca atenção dos poderes políticos convencionais, vinham ganhando mais e mais defensores, sobretudo entre os eleitores urbanos.
Menos de um ano depois, porém, o partido dava mostras de não saber lidar com o sucesso: em junho de 2020, Francisco Guerreiro batia com a porta, alegando “divergências políticas” com a direção, e o PAN perdia a representação no Parlamento Europeu; passados poucos dias, Cristina Rodrigues, deputada por Setúbal, também abandonava o partido (e passava a não-inscrita) por “não conseguir lidar com a forma” como o PAN estava a ser orientado; com eles, mais cinco elementos desvinculavam-se do partido.
Agora é o próprio André Silva que anuncia a saída (sai do Parlamento e da liderança no congresso previsto para junho).
Ainda antes das últimas legislativas, escrevi um texto no Expresso onde me interrogava sobre se o PAN não teria crescido demasiado rapidamente: “Para nós que já cá andamos há uns anos e já assistimos a alguns epifenómenos partidários que não lograram ser mais do que isso, a questão agora é perceber se as pernas de André Silva (e pares) conseguem acompanhar o passo que estão em vias de dar”.
A resposta, pelos vistos, é não.
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SIC Notícias: 'Habitação: Comissão Europeia acusa governos de esperarem por mão invisível'
Quarta-feira, 04 de Outubro de 2023
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