Bomba Bomba: 'Debate online discute a importância de preservar a biodiversidade marinha'
Na edição desta terça-feira (21), o debate moderado pela jornalista Patrícia Matos contará com a participação do biólogo marinho Gonçalo Carvalho. Licenciado em Biologia Marinha e Pescas pela Universidade do Algarve, em Portugal, e Mestre em Sociologia Urbana, do Território e do Ambiente pelo ISCTE/IUL, Carvalho dedicou a primeira parte do seu percurso profissional à recolha de dados e acompanhamento de várias pescarias em Portugal continental e insular. Desde 2006, ano em que colaborou na criação da Sciaena, envolveu-se de forma cada vez mais ativa com diversas Organizações Não Governamentais do Ambiente (ONGA), sobretudo a nível das políticas das pescas e da conservação dos ecossistemas marinhos. O Coordenador Executivo da Sciaena foi também um dos fundadores da PONG-Pesca e é atualmente membro do Comité de Gestão da Seas at Risk e consultor para várias ONGA internacionais.
Cada vez mais degradados, os ecossistemas marinhos são alvo de vários setores da sociedade – desde os cidadãos até o poder público, passando também pelas instituições do setor privado. Os oceanos recebem quantidades exorbitantes de poluentes através do despejo de resíduos; têm animais capturados e mortos; são contaminados com lixo, especialmente plástico; e são insuficientemente protegidos pela sociedade como um todo.
Num esforço para reverter esse cenário, a presidente da ANDA e o eurodeputado Francisco Guerreiro decidiram apostar na conscientização como ferramenta para fomentar debates para além do encontro virtual por entenderem que iniciar essa conversa através das redes sociais é uma forma de levar esse assunto para dentro da casa de cada um dos telespectadores que poderão assistir à live em tempo real no Facebook da ANDA e do eurodeputado. A transmissão ocorrerá também através do YouTube da agência de notícias e poderá ser assistida às 15 horas de Brasília, às 19 horas de Lisboa e às 20 horas de Bruxelas na próxima terça-feira (22).
Estudos comprovam devastação dos ecossistemas aquáticos
Um relatório do Fórum Econômico Mundial de Davos divulgado em 2016 concluiu que a poluição marinha é tamanha que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Na época da divulgação do estudo, um comunicado informava que “o sistema atual de produção, utilização e descarte de plásticos tem efeitos negativos importantes” e citava que “de 80 a 120 bilhões de dólares de embalagens plásticas são perdidos anualmente”. O custo financeiro, porém, é inferior ao preço que será pago pela natureza e pela humanidade, que depende do equilíbrio ambiental para ter qualidade de vida.
Também em 2050, é esperado que 99% das aves marinhas já tenham consumido plástico encontrado nos oceanos. Atualmente, a maior parte delas já ingeriu esse produto e muitas morreram em decorrência do adoecimento causado pelo lixo.
De acordo com os pesquisadores, a quantidade de plástico na água do mar irá confundir os pássaros, incluindo os pinguins e as gaivotas, que irão consumi-lo acreditando se tratar de um alimento. Para chegar a esses resultados, os estudiosos avaliaram 135 espécies de aves entre 1962 e 2012 e fizeram previsões baseadas nos níveis atuais de plástico nos oceanos. “Prognosticamos, utilizando uma observação histórica, que 90% das aves marinhas comeram plástico. Essa é uma quantidade enorme e põe em destaque a onipresença da contaminação dos plásticos”, afirmou à época Chris Wilcox, pesquisador-chefe da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO).
Em outubro do ano passado, a agência científica do governo da Austrália, CSIRO, coletou e analisou núcleos do fundo dos oceanos tirados em seis locais remotos a cerca de 300 km da costa sul do país, na Grande Baía Australiana, e concluiu que pelo menos 14 milhões de toneladas de peças de plástico com menos de 5 mm de largura possivelmente estão no fundo dos oceanos do mundo.
A análise de sedimentos oceânicos em profundidades de até 3 km sugere que pode haver 30 vezes mais plástico no fundo do oceano do que flutuando na superfície.
Lixo nos oceanos poderá causar extinção de espécies
Detritos marinhos e principalmente lixo plástico são uma grande preocupação para o público em geral, assim como para cientistas e formuladores de políticas em todo o mundo. Os custos socioeconômicos causados pelo lixo nas costas e no mar são substanciais. Mas são as consequências ecológicas que criaram uma consciência considerável e ainda crescente. Regularmente, novas espécies marinhas são encontradas após ingerir plásticos ou se enredar nele.
Uma primeira visão geral das espécies afetadas foi fornecida por Laist (1997): o autor anotou registros de ingestão ou emaranhamento de 267 espécies marinhas. Em 2015, essa lista foi expandida para um total de 557 espécies. Um número ainda maior de 693 espécies foi relatado, incluindo organismos que se prendem a plásticos ou são sufocados por detritos.
Esses aumentos ilustram o interesse da pesquisa nesse tópico durante os últimos decênios, mas não necessariamente o aumento de indivíduos ou espécies afetados. uma atualização de uma lista simples de espécies para uma visão quantitativa mais detalhada é crucial para a interpretação da escala dos impactos de detritos principalmente plásticos na fauna marinha.
Hoje, 914 espécies marinhas foram documentadas ou emaranhadas no lixo humano ou com elas alojadas em seus tratos digestivos. Os especialistas S. Kühn e Jan Andries van Franeker da Dutch Science Foundation calcularam esse número analisando 747 estudos científicos publicados em maio de 2019 desde o relatório do biólogo Eugene Gudger de 1938.
“Os resultados confirmam nossas piores expectativas”, diz o biólogo marinho Daniel Pauly, que lidera a iniciativa Seas Around Us na Universidade da Colúmbia Britânica. Apesar dos animais terem sobrevivido à caça e à sobrepesca, Pauly diz que o desperdício de plástico pode significar o fim definitivo de muitas criaturas marinhas.
“Estou convencido de que o plástico fará com que algumas espécies sejam extintas e isso parte meu coração só de pensar nisso.”
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