Mais de meia centena de oradores – locais, nacionais e europeus – vão participar, a partir deste sábado, 27, em mais uma edição do Summer CEmp, desta vez na ilha de São Miguel, nos Açores. A escola de verão da representação da Comissão Europeia (CE) em Portugal convocou 40 jovens universitários para, ao longo de quatro dias, conhecerem a realidade regional e debaterem o presente e futuro da União Europeia (UE). O programa decorre até terça-feira, 30, no concelho da Ribeira Grande, e conta com o apoio do município e do Governo Regional dos Açores.
“É impensável conceber o presente e o futuro sem os jovens envolvidos”, reconhece Sofia Moreira de Sousa, representante da CE em Portugal e uma das estreantes no evento que se realiza anualmente em diferentes locais do país. A antiga embaixadora da UE em Cabo Verde explica ao Expresso que o grande objetivo da iniciativa é “valorizar a participação dos jovens na vida política e social” e incentivar à interação entre os universitários “com a comunidade e com as pessoas dos Açores”.
“Creio que continua a haver falta de visão estrutural de uma verdadeira política de coesão em Portugal”, critica o eurodeputado Francisco Guerreiro
Para isso, haverá oportunidade de participarem em cerca de meia centena de sessões – entre workshops, visitas de campo, palestras e debates – com personalidades de várias áreas da sociedade (consulte o programa abaixo). Entre as figuras presentes, destaque para José Manuel Durão Barroso, antigo presidente da CE, Ana Paula Zacarias, representante permanente de Portugal nas Nações Unidas, ou Elias Kuhn von Bursdorff e Peter Müller, ambos responsáveis pela redação dos discursos de Ursula von der Leyen, presidente da CE. Os autores dos discursos de von der Leyen vão participar no debate "If I was the President of the European Comission...", no dia 30, moderado pelo jornalista da SIC Rodrigo Pratas (ver informação abaixo).
Mais do que doutrinar, Sofia Moreira de Sousa olha para o Summer CEmp como o palco para aproximar os futuros líderes, decisores e cidadãos participativos do projeto europeu, que enfrenta, hoje, desafios agravados pela guerra na Ucrânia, pela crise energética e ambiental, mas também por uma nova crise financeira que paira sobre o velho continente. “Acredito, acreditamos todos, que o projeto europeu vai dar resposta”, assegura a responsável, que encontra no “debate” a principal arma para reforçar “os valores que nos unem e que estiveram na génese da construção da UE”.
A vida para lá dos centros de decisão
“Creio que continua a haver falta de visão estrutural de uma verdadeira política de coesão em Portugal”, critica o eurodeputado Francisco Guerreiro, referindo-se às “zonas ultraperiféricas da Região Autónoma da Madeira (RAM) e da Região Autónoma dos Açores (RAA)”. Afastadas dos centros de decisão, em Lisboa, Porto e Bruxelas, são em simultâneo regiões que beneficiaram da “integração no projeto europeu”, acrescenta a eurodeputada Sara Cerdas, e que continuam a sofrer as consequências da centralização “que depende das políticas nacionais”, observa Francisco Guerreiro.
O agora deputado independente do grupo dos Verdes, eleito em 2019 pelo PAN, diz mesmo que “o investimento tem sido maioritariamente em zonas urbanas e/ou metropolitanas do Porto e Lisboa”, deixando “o interior, literalmente, ao abandono”. Para estas comunidades periféricas tem existido, refere, “concentração de recursos” e apoios estruturais do Quadro Financeiro Plurianual e do Comité das Regiões, mas tem faltado gestão adequada que “cabe aos Estados-membros”.
“Ainda me recordo do que era ir ao outro lado da ilha em cinco, seis horas por caminhos sinuosos e agora chegamos lá em uma hora ou até menos”, aponta Sara Cerdas, deputada ao Parlamento Europeu
Sara Cerdas, eleita pelo PS, é natural do Funchal, na ilha da Madeira, e conhece bem a realidade de quem vive afastado do poder. “Ainda me recordo do que era ir ao outro lado da ilha em cinco, seis horas, por caminhos sinuosos e agora chegamos lá numa hora, ou até menos”, aponta. Porém, acredita que uma das razões que justifica a abstenção para as eleições europeias reside na falta de crédito que é dado ao financiamento europeu pelos Estados, regiões e autarquias, ou à comunicação de como a legislação nacional é influenciada pelas diretrizes comunitárias. “É algo que tem de ser reforçado porque, de outra forma, o que acontece é o surgimento de um sentimento anti-UE”, considera.
SUMMER CEMP 22
O que é
Organizado pela representação portuguesa da Comissão Europeia, o Summer CEmp 22 é a quinta edição do evento que junta jovens universitários portugueses, de várias regiões do país, no município de Ribeira Grande, ilha de São Miguel, nos Açores, para debater o presente e o futuro da União Europeia. O objetivo passa por aproximar as novas gerações do projeto europeu, mas também da realidade da comunidade local onde decorre a iniciativa.
Quando, onde e a que horas?
A escola de verão da CE em Portugal arranca este sábado, dia 27, e decorre até terça-feira, dia 30, em vários locais do município de Ribeira Grande, ilha de São Miguel, nos Açores.
No dia 30, às 14h45, Elias Kuhn Von Burgsdorff e Peter Müller, responsáveis pela redação dos discursos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, vão participar no debate "If I was the President of the European Comission...", moderado pelo jornalista da SIC Rodrigo Pratas. A transmissão será realizada através do Facebook do Expresso a partir das 18h30.
O programa completo, com mais de 50 sessões e 50 oradores, pode ser consultado AQUI.
Quem são os oradores em destaque?
- José Manuel Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia e atual presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI);
- Ana Paula Zacarias, Representante Permanente de Portugal nas Nações Unidas;
- Elias Kuhn von Burgsdorff, responsável pela redação dos discursos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen;
- Peter Müller, responsável pela redação dos discursos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen;
- Alexandre Branco Gaudêncio, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande.
Porque é que este evento é importante?
Através de debates, exercícios em equipa e visitas de campo, as quatro dezenas de jovens universitários portugueses terão oportunidade de refletir e discutir sobre alguns dos principais desafios que o projeto europeu enfrenta. A crise climática, a ameaça de uma crise financeira e a recente guerra que assola a Ucrânia serão temas centrais ao longo dos quatro dias da iniciativa, que procurará, ainda, dar eco às preocupações de comunidades consideradas periféricas, como a Região Autónoma dos Açores.
Como posso assistir?
Será possível assistir ao debate com os redactores dos discursos da presidente da Comissão Europeia no dia 30, a partir das 18h30, através do Facebook do Expresso.
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