Expresso: 'A Jornada Mundial da Juventude foi positiva para Portugal?'

Expresso: 'A Jornada Mundial da Juventude foi positiva para Portugal?'

  • Segunda-feira, 11 de Setembro de 2023

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Durante uma semana, a Jornada Mundial da Juventude ocupou Lisboa, entusiasmou jovens e mobilizou políticos. Mas a avaliação não é consensual

SIM A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 terminou. Quando olhamos para um evento, como determinamos se foi uma experiência positiva? Escolheria três dimensões.

(...)

FRANCISCO GUERREIRO

NÃO

Esta coluna deveria ser apelidada “Crítica” isto porque na verdade não sou contra o Papa, muito menos contra a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Aliás, mal seria como defensor de um Estado laico e de uma democracia plural. Porém não posso ser acrítico e aceitar a última semana como algo positivo para o país.

Primeiro porque vi uma espécie de servilismo à figura da sua “santidade”. Bem sei que o Papa é um líder religioso e um chefe de Estado, mas a vassalagem promovida, por tantos quadrantes políticos neste evento, mas sobretudo ao Papa, deixa-me com sérias dúvidas de que estes estejam a defender a laicidade das instituições democráticas.

Estes laivos de subserviência e de complacência demonstraram-se, por exemplo, na censura do Município de Oeiras a um outdoor que, no âmbito da JMJ, condenava os 4800 grotescos casos de abusos sexuais a menores por membros da Igreja Católica em Portugal.

Depois ao ver a evolução do debate em torno do impacto económico e social da vinda do Papa como um tsunami de variáveis positivas, no início, para uma realidade imaterial dos ganhos, depois do evento. Pergunta-se então qual o real impacto de 1,5 milhões de pessoas a mais em tão circunscritas áreas geográficas? Qual a sua pegada ecológica? Que peso para os serviços públicos e municipais?

Este evento exigia outra sobriedade política, planeamento económico robusto e estudos de impactos variados

Concomitantemente, recordados da instalação cultural e extremamente pertinente do Bordalo II, com “a passadeira da vergonha”, devemos questionar porque é que o mesmo evento em Madrid, em 2011, custou cerca de €50 milhões (70% pagos pelos peregrinos e 30% por patrocínios) e em Portugal houve vários ajustes diretos (Lisboa, Oeiras, Cascais, etc.) tal como recursos estatais, somando largos milhões de euros (ninguém sabe ou saberá o valor total), para concretizar este evento.

Relacionado, e ouvindo Carlos Moedas, fico com a sensação de que o Parque Tejo vai ser mais um local para megaeventos. Fico esperançado por o ouvir dizer que rejeita mais urbanismo e pressão imobiliária no local mas creio que ele não se mune da equipa necessária, não por incapacidade técnica mas de conceptualização, para projetar naquele espaço um segundo pulmão em Lisboa. Espero estar errado.

Por último, “bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”. Exemplifico esta incoerência com o apelo da Igreja, propagado pelos meios de comunicação social, para que os participantes da JMJ compensassem a sua pegada ecológica escolhendo uma alimentação vegetariana. Porém na viagem de avião para o Vaticano o menu papal continha “vitela estufada”, “cherne dourado” e “queijo serra da Estrela”. Se alguém tem dúvidas de que uma alimentação sem produtos animais é a mais benéfica para o planeta é só analisar os dados. Contra factos não há “achómetros”.

Dito isto, creio que este evento exigia outra sobriedade política, um planeamento económico robusto e estudos de impactos variados, tudo para que pudéssemos afirmar que Portugal é sim um Estado laico, tolerante e maduro.

Eurodeputado independente

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