O Parlamento Europeu (PE) aprovou esta terça-feira, por esmagadora maioria, uma resolução que condena a invasão militar da Ucrânia pela Rússia, pede sanções mais severas para o regime de Putin, saudando “a ativação dos planos de defesa da NATO”, bem como das respetivas “forças de resposta”, e insta as instituições europeias a desenvolver “esforços no sentido de conceder à Ucrânia o estatuto de país candidato à adesão à UE”. Dos 705 membros do PE, houve 637 votos a favor e 26 abstenções (além de várias ausências). Apenas 13 parlamentares votaram contra, entre os quais os dois eleitos pelo Partido Comunista Português, Sandra Pereira e João Pimenta Lopes. Quem são os restantes?
Na noite de terça-feira, já depois de ter estalado a polémica e de o PCP ter emitido um comunicado a justificar a orientação de voto, o ex-eurodeputado comunista João Ferreira foi à CNN Portugal defender que a resolução europeia “aumenta o ritmo de fornecimento” de armas na Ucrânia, o que “pode eliminar eventuais pontes entre os países” e “aponta para um reforço da NATO na região”. Para além disso, faz um “caminho de reforço de sanções”, que “nunca afetam os grandes capitalistas da Rússia”, mas “o povo” russo e os restantes, por causa do “efeito boomerang” dessas sanções. Foi por isso que o PCP se opôs à resolução, justificou Seguiu-se um momento de debate com o eurodeputado eleito pelo PS Pedro Silva Pereira, ex-ministro da Presidência de José Sócrates e hoje vice-presidente do PE, e uma troca de argumentos sobre quem votou ao lado da extrema-direita. E, na verdade, a resposta não é única. Entre os parlamentares que integram a família europeia nacionalista do Identidade e Democracia (ID), há quem tenha votado de um lado e do outro. A orientação do grupo, porém, era a de votar a favor, o que nem todos cumpriram.Aliás, exceção feita aos eurodeputados não-inscritos, que votam como independentes, todos os que se opuseram à resolução do PE fizeram-no à revelia da orientação de voto dos respetivos grupos parlamentares. É o caso do próprio PCP. O grupo de que faz parte, o The Left (“A Esquerda”), votou maioritariamente a favor o conjunto da resolução – foi o que fez, por exemplo, o Bloco de Esquerda, que é parte do mesmo grupo e que, ao contrário do que correu nas redes sociais, não se absteve nesta proposta, mas numa anterior.
Marcel de Graaf
O caso mais peculiar da extrema-direita: foi o único eurodeputado ainda filiado ao Identidade e Democracia a opor-se à condenação da Rússia pela invasão à Ucrânia. Dos 65 membros do grupo ultranacionalista, de que o Chega faz parte, embora não tenha qualquer eurodeputado eleito, 45 votaram a favor, sete abstiveram-se e apenas de Graaf votou contra – houve ainda quatro ausentes e oito que optaram por não votar.
Graaf faz parte do Partido pela Liberdade (PVV), dos Países Baixos, liderado por Geert Wilders, assumido antieuropeísta e conhecido pelas posições xenófobas.
Francesca Donato
Eurodeputada italiana eleita em 2019 pela Lega, partido da ultradireita italiana que integra o ID no Parlamento Europeu. Em setembro do ano passado passou a não-inscrita, após ter anunciado a desfiliação da Lega, que garantiu não ter espaço para membros “antivacinas” como Donato. A parlamentar anunciou que, apesar da desfiliação, continuaria a fazer parte do ID, mas um mês depois, escreveu que foi “expulsa” do grupo parlamentar.
Ioannis Lagos
Mais um voto contra vindo da extrema-direita. Ioannis Lagos é um dos fundadores do partido neonazi grego Aurora Dourada, que em 2020 foi condenado por organização criminosa. Antes disso, já Lagos havia pedido a desfiliação do partido no PE e passado a eurodeputado não-inscrito.
Nikolaou-Alavanos
Lefteris Nikolaou-Alavanos é membro do Parlamento Europeu desde 2019 pelo Partido Comunista da Grécia (KKE), mas foi eleito como independente. Ao contrário da maioria da sua família política, e tal como os eurodeputados do PCP, votou contra a resolução aprovada ontem.
Kostas Papadakis
Mais um eurodeputado eleito pelo Partido Comunista da Grécia que, por esta altura, não tem qualquer filiação a grupos europeus. É deputado não-inscrito e, portanto, votou como independente.
Martin Schirdewan
Referido por João Ferreira, quando lembrou que outros partidos de esquerda votaram como o PCP, Schirdewan é vice do grupo parlamentar d’A Esquerda. Jornalista, é membro do ‘Die Linke’, partido da esquerda alemã.
Miguel Urbán Crespo
De Espanha vem outro dos deputados que votou à revelia da orientação do grupo A Esquerda no Parlamento Europeu. Em Espanha, Crespo esteve na fundação do ‘Podemos’.
Mick Wallace
Irlandês, foi eleito pelo ‘Independents 4 Change’, partido da esquerda local. É assim mais um membro do grupo A Esquerda a votar contra.
Clare Daly
A outra deputada eleita nas listas do ‘Independents 4 Change’, da Irlanda, votou como o correligionário: contra.
Özlem Demirel
Última parlamentar d’A Esquerda a votar contra. Demirel é alemã, membro do ‘Die Linke’, e está sentada no Parlamento Europeu desde 2019.
Tatjana Ždanoka
Oriunda da Letónia, foi a única membro do grupo dos “Verdes/Aliança Livre Europeia” no Parlamento Europeu a opor-se à resolução. A maioria dos eurodeputados desse grupo, incluindo o português Francisco Guerreiro (ex-PAN), seguiu a orientação de voto da família europeia e aprovou a proposta.
Expresso: 'Por que precisamos parar a máquina antropológica'
Quarta-feira, 17 de Abril de 2024
LER MAIS